
Este é um dos dados mais impressionantes que já encontrei ao longo dos meus quase 20 anos de experiência em inteligência de mercado. A informação consta da pesquisa realizada pela Ipsos Brasil, sob o patrocínio do Nubank, que mostra como os brasileiros utilizam seu tempo na vida adulta. Trata-se de um estudo amplo e revelador, pois expõe tanto o que as pessoas fazem quanto o que gostariam de fazer com seu tempo.
No recorte sobre o tempo livre, o que mais me chamou a atenção foi a constatação de que os brasileiros adultos, em média, dedicam 5% da vida a ouvir rádio e assistir TV. Pelas projeções da Ipsos, considerando a duração média da vida adulta, isso equivale a quase três anos, ou 1.051 dias. Em outras palavras, são mais de mil dias vividos em contato direto com rádio e TV.
Não é novidade que esses meios têm grande consumo; inúmeras pesquisas comprovam sua força, muitas das quais compartilho em artigos e posts. O impacto está em ver esse consumo traduzido em números absolutos, que ganham ainda mais relevância quando comparados a outras atividades.
Rádio e TV ocupam 5% da vida adulta: esporte e bem-estar, 4%; atividades religiosas, 2%; participação em eventos, 1%. Isso significa que gasta-se mais do que o dobro do tempo com rádio e TV em relação às missas e aos cultos, por exemplo, que são atividades centrais na vida de uma parcela importante da população.
O peso de rádio e TV na vida cotidiana
Essa quantificação mostra três aspectos fundamentais. Primeiro, rádio e TV são muito mais do que meios de informação e entretenimento: são parte essencial da vida cotidiana, com peso muito superior a diversas outras dimensões da experiência humana.
Segundo, esse dado é talvez a melhor tradução numérica do conceito de fidelidade do público em relação à radiodifusão. Trata-se de um vínculo sólido, construído ao longo de gerações. Ele aparece em hábitos que atravessam a rotina, dos deslocamentos matinais ao descanso noturno. Essa constância não se apoia em modismos tecnológicos, mas em atributos que outras pesquisas já apontaram, como companheirismo e confiança.
Terceiro, evidencia-se a importância de considerar o tempo como um valioso indicador de desempenho, como abordei em artigo recente. Produtores de conteúdo, agências de publicidade e anunciantes muitas vezes negligenciam essa métrica, desperdiçando oportunidades de elaborar conteúdos e planos de mídia mais eficientes.
É fundamental, portanto, que radialistas e radiodifusores lembrem-se sempre da importância que seus trabalhos têm na existência das pessoas. Rádio e TV não apenas ocupam uma parcela significativa do tempo dos brasileiros, mas influenciam escolhas de consumo, hábitos e, sobretudo, o modo como os indivíduos decidem usar aquilo que possuem de mais valioso: a própria vida.
Fernando Morgado é consultor e palestrante com mais de 15 anos de experiência nas áreas de mídia e inteligência de negócios. É Top Voice no LinkedIn e tem livros publicados no Brasil e no exterior, incluindo o best-seller Silvio Santos – A Trajetória do Mito. Foi coordenador adjunto do Núcleo de Estudos de Rádio da UFRGS. Mestre em Gestão da Economia Criativa e especialista em Gestão Empresarial e Marketing pela ESPM. Clique aqui para acessar o Instagram de Fernando Morgado.