
Dando sequência à análise da pesquisa realizada pela Ipsos Brasil, patrocinada pelo Nubank, sobre o uso do tempo de vida dos brasileiros, outro dado chama a atenção. No artigo anterior, destaquei que 5% da vida adulta é dedicada ao consumo de rádio e TV, o que já demonstra a força desses meios e o impacto que exercem na rotina da população, indo muito além da mera distração.
Contudo, impressiona ver que, mesmo com esse consumo elevado, os brasileiros desejam passar ainda mais tempo assistindo televisão. Quando questionados sobre como gostariam de usar o tempo livre, assistir TV surgiu como a terceira atividade mais citada, com 27,2% das respostas. A preferência pela televisão só foi superada por viajar, com 41,7%, e dormir, com 36%, mas superou praticar esportes, com 26%, e descansar, com 23,4%. Em outras palavras, entre as escolhas espontâneas para momentos raros de folga, a preferência por ver TV permanece muito presente.
Isso significa que, dentro de um recurso tão escasso como o tempo livre, assistir TV se coloca à frente até de necessidades fisiológicas. Isso mostra que a televisão, especialmente a TV aberta, que concentra a maior audiência, não apenas ocupa parte significativa do tempo de vida dos brasileiros, mas também é objeto de desejo. Há uma relação aspiracional com esse meio que combina confiança e hábito. O ritual de compartilhar conteúdos em família e acompanhar acontecimentos ao mesmo tempo que o resto do país reforça esse vínculo.
TV está no centro da vida dos brasileiros
Esse dado desmonta a ideia de que a televisão estaria acabada. Pelo contrário, ela continua sendo valorizada e desejada pelo público. As pessoas permanecem ligadas à TV e querem estar ainda mais próximas dela, seja através das grandes ou das pequenas telas.
Essa história começou há 75 anos, com o nascimento da TV no Brasil, celebrado neste mês de setembro, e segue viva até hoje, inclusive no ambiente digital. Os conteúdos televisivos pautam grande parte das conversas nas redes sociais, geram repercussão, estimulam comentários e mantêm a televisão como protagonista do debate público. O que acontece na TV reverbera nas outras mídias, ampliando o alcance e prolongando a vida dos conteúdos.
Além disso, a televisão é a mídia que mais produz conteúdo nacional, gera empregos e renda no setor audiovisual. As produções brasileiras fazem parte da pauta de exportações do país, o que comprova a capacidade da TV de criar valor econômico e simbólico. E é esse valor justamente que explica o motivo de ela continuar preenchendo a rotina e a atenção da população e por que surge, com frequência, como escolha prioritária para o tempo livre.
A televisão, portanto, está longe de desaparecer. Ela permanece relevante, desejada pelo público e, principalmente, com espaço para crescer no Brasil.
Fernando Morgado é consultor e palestrante com mais de 15 anos de experiência nas áreas de mídia e inteligência de negócios. É Top Voice no LinkedIn e tem livros publicados no Brasil e no exterior, incluindo o best-seller Silvio Santos – A Trajetória do Mito. Foi coordenador adjunto do Núcleo de Estudos de Rádio da UFRGS. Mestre em Gestão da Economia Criativa e especialista em Gestão Empresarial e Marketing pela ESPM. Clique aqui para acessar o Instagram de Fernando Morgado.
Foto de capa: ImageFX/IA