Fernando Morgado analisa o crescimento dos números e os impactos da inovação
Os números da Techsurvey 2024 confirmam que o rádio segue sólido, com 74% dos ouvintes mantendo ou ampliando o consumo das emissoras FM e AM. Esse dado ganha ainda mais relevância diante do cenário atual, marcado por maior concorrência digital, mudanças no comportamento da audiência e novas tecnologias.
Mas o que sustenta esse patamar tão alto é justamente a multiplicação dos dispositivos que levam o conteúdo radiofônico a novos ambientes. A escuta pelo dial continua forte e se diversifica ainda mais, ocorrendo também via smart speakers, painéis automotivos digitais e smartwatches.
Novos dispositivos, novas formas de escuta?
A mudança no modo de consumo do rádio não significa apenas um deslocamento de plataforma, mas uma ampliação da experiência tanto dos anunciantes quanto dos ouvintes. Com a integração a dispositivos de voz, o público pode acessar suas emissoras favoritas sem precisar sintonizar manualmente. A Alexa e outros assistentes pessoais incluem rádios na lista de comandos mais utilizados, consolidando a presença do meio na era da automação.
Nos automóveis, a popularização dos sistemas de entretenimento conectados reforçou essa transição. Muitos motoristas optam por rádios via aplicativos ou streamings agregadores, o que prova que a fidelidade ao conteúdo radiofônico vai além do aparelho de recepção. O que importa não é o dial, mas o que está sendo transmitido. Esse comportamento quebra uma visão ultrapassada de que o rádio estaria preso a tecnologias convencionais.
O rádio está se tornando mais responsivo?
Outro fator que explica a permanência da audiência é a capacidade do rádio de se tornar mais responsivo às preferências do público. Já é possível ajustar a programação com o uso de algoritmos, integração de dados em tempo real e personalização de anúncios.
Essas possibilidades são debatidas por mim em masterclass sobre inteligência artificial aplicada ao rádio, onde exploro como a tecnologia pode potencializar o desempenho das emissoras. Assim, o rádio mantém sua essência, mas combinada com a curadoria humana e a automação inteligente. Isso cria um equilíbrio entre tradição e inovação, permitindo que o meio continue atraente sem perder autenticidade.
A evolução do rádio também passa pelas medições de audiência, que hoje são mais importantes do que nunca. Com a multiplicação das plataformas de escuta, tornou-se essencial integrar diferentes fontes de dados para obter uma visão global do comportamento do público. Essa necessidade exige atualização constante, tanto em tecnologia quanto em estratégias de coleta e análise, permitindo que as emissoras compreendam melhor seus ouvintes e tomem decisões embasadas em dados.
O que os números indicam para o futuro?
O crescimento da audiência não é um fenômeno isolado, mas um indicativo de como o rádio evolui e não perde força. Em um mercado onde novas mídias surgem e desaparecem rapidamente, a longevidade do rádio se explica pela sua capacidade de adaptação.
Os receptores modernos apenas ampliam essa relação. O rádio continua sendo um meio de massa, mas agora com distribuição pulverizada, que se encaixa em diferentes cenários e gera novos hábitos de consumo. Se o rádio sempre foi definido pelo alcance, agora ele é também sinônimo de ubiquidade digital.
A era dos novos receptores não fragmentou a audiência, mas a consolidou em múltiplos formatos. A fidelidade ao rádio continua intacta, porque, no fim das contas, o que importa não é por onde se ouve, mas o que se ouve.
Fernando Morgado é consultor e palestrante com mais de 15 anos de experiência nas áreas de mídia e inteligência de negócios. Atendeu clientes como Band, Grupo Globo e SBT. É Top Voice no LinkedIn e tem livros publicados no Brasil e no exterior, incluindo o best-seller Silvio Santos – A Trajetória do Mito. Foi coordenador adjunto do Núcleo de Estudos de Rádio da UFRGS. Mestre em Gestão da Economia Criativa e especialista em Gestão Empresarial e Marketing pela ESPM.
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