Fernando Morgado ensina como usar dados de credibilidade para criar argumentos comerciais que vendem mais no rádio
Em um tempo em que quase tudo é questionado, o rádio permanece inabalável. A pesquisa "Credibilidade das Mídias", realizada pela Ponto Map em parceria com a V-Tracker, manteve o rádio no topo da confiança dos brasileiros. Nada menos que 81% das pessoas o consideram confiável, o maior índice entre todas as mídias avaliadas. Para quem vive da venda de espaços publicitários, esse número é mais do que um motivo de orgulho: é uma arma estratégica que precisa ser usada com inteligência na hora de conversar com o mercado.
Não se trata de apenas mais uma estatística para compor um slide. É um ponto de virada na forma como o rádio deve ser posicionado no discurso comercial. Em uma era marcada pela desconfiança digital, pela desinformação e pela saturação de conteúdo, a credibilidade se tornou uma moeda valiosa — e o rádio tem isso de sobra. Neste artigo, apresento oito argumentos, baseados nessa pesquisa, que você, radiodifusor ou radialista, pode utilizar na hora de prospectar anunciantes.
Como usar essa vantagem para fechar mais vendas?
O primeiro ponto é óbvio, mas ainda subaproveitado: nenhuma outra mídia tem a mesma reputação que o rádio. Nem TV fechada (75%), nem sites governamentais (71%), nem empresas de mídia impressa (68%). Em um ambiente publicitário onde a confiança virou o novo ouro, anunciar no rádio é o equivalente a colocar sua marca dentro de um cofre blindado. Essa confiança acumulada ao longo de décadas não se compra com impulsionamento e nem com algoritmo. Ela é construída na base da coerência editorial e da conexão legítima com a comunidade.
Em segundo lugar, o rádio ostenta o menor índice de rejeição: apenas 19% o classificam como "nada confiável". É muito menos da metade do que se vê com influenciadores digitais (65%) e redes sociais (59%). Isso transforma o rádio em território seguro para a reputação das marcas. Diferente das plataformas digitais, que vivem sob risco de crise reputacional por associação errada, o rádio oferece um ambiente editorialmente estável.
Por que o digital não entrega o que promete?
Vamos ao terceiro ponto, aquele que pode virar o jogo numa negociação com agências: a credibilidade do rádio é infinitamente superior à do digital em geral. A pesquisa mostra que redes sociais têm apenas 41% de confiança. Influenciadores digitais, 35%. WhatsApp/Telegram, 51%. Ou seja: enquanto o rádio é percebido como voz confiável, os ambientes digitais ainda carregam a sombra da dúvida. Isso tem implicações diretas no desempenho das campanhas. O público pode até ver um anúncio na rede social, mas ele acredita quando ouve no rádio.
O quarto argumento é sobre presença estratégica. O rádio aparece com 47% de frequência de uso, na frente, por exemplo, de impressos (41%) e podcasts (39%). Esse dado mostra que o rádio permanece no cotidiano das pessoas. E quem consome com frequência, tende a estar mais aberto para absorver mensagens publicitárias com profundidade.
Que argumento sensibiliza os decisores mais céticos?
O quinto ponto é onde o rádio pode conquistar até os anunciantes mais digitais: o custo por ponto de credibilidade é imbatível. Colocar dinheiro em uma plataforma confiável, consumida com frequência e com risco reputacional mínimo é uma combinação rara. O rádio entrega isso de forma consistente, sem precisar de grandes manobras técnicas ou métricas fantasiosas. O resultado é eficiência real e palpável.
O sexto argumento que deve entrar no pitch é o poder da voz como elemento simbólico, especialmente em tempos de deepfakes e manipulações visuais. O ouvinte reconhece o locutor, confia no tom e se sente próximo da mensagem. Essa camada simbólica reforça a autoridade do meio e deve ser tratada como ativo comercial de primeira grandeza.
Como destacar o rádio nas campanhas multicanal?
O sétimo ponto é estratégico para agências e marcas que buscam diferenciação em campanhas multicanal: o rádio é o elo que une a credibilidade da mídia tradicional com a agilidade do digital. Ele pode ser o canal de reforço emocional da mensagem publicitária, dando o lastro de confiança que falta em muitas campanhas digitais. Ao incluir o rádio no plano de mídia, o anunciante não só amplia o alcance como turbina a autoridade da marca em cada ponto de contato.
Por fim, o oitavo argumento é o seguinte: o rádio é cada vez mais uma mídia de decisão. O rádio não só influencia comportamentos como também valida escolhas. Ouvir um produto sendo recomendado no rádio aumenta sua legitimidade. Isso vale ouro para marcas que vendem no ambiente on-line, mas que precisam de um selo de confiança para converter audiência em venda.
O estudo da Ponto Map com a V-Tracker não é só uma boa notícia. É uma convocação. Cada dono e profissional de rádio precisa olhar esses números como munição estratégica para o crescimento do seu negócio. É o rádio mostrando que tem muito a dizer. E, mais do que nunca, tem autoridade para ser ouvido.
Fernando Morgado é consultor e palestrante com mais de 15 anos de experiência nas áreas de mídia e inteligência de negócios. Atendeu clientes como Band, Grupo Globo e SBT. É Top Voice no LinkedIn e tem livros publicados no Brasil e no exterior, incluindo o best-seller Silvio Santos – A Trajetória do Mito. Foi coordenador adjunto do Núcleo de Estudos de Rádio da UFRGS. Mestre em Gestão da Economia Criativa e especialista em Gestão Empresarial e Marketing pela ESPM. https://instagram.com/morgadofernando_
Foto de capa: © Joédson Alves/Agência Brasil